Pecadores | Ryan Coogler mostra o que é cinema de verdade
Quando falamos sobre o diretor Ryan Coogler, logo nos lembramos do seu trabalho memorável em ‘Pantera Negra’ ou em ‘Creed’. Porém, pouco se fala sobre como ele consegue ser excelente no cinema autoral. Pensando em mudar a visão do mundo sobre isso, aparentemente, Coogler apresenta ‘Pecadores’ como sua aposta de mostrar como sua forma de fazer filmes é extraordinária.
Pecadores é ambientado na década de 30 e foca nos gêmeos, Smoke e Stack, interpretados por Michael B. Jordan (Creed). Dispostos a deixar suas vidas conturbadas para trás, os irmãos retornam à sua cidade natal para recomeçar suas vidas do zero, quando descobrem que um mal ainda maior está à espera deles para recebê-los de volta.

Créditos: Divulgação / Warner Bros. Pictures Brasil
Coogler gosta de contar suas histórias de maneira subjetiva. Apesar de ser um filme que abraça a temática de criaturas noturnas, o diretor – mais uma vez – quer contar uma narrativa que ultrapassa o óbvio aos olhos do público. Você pode entrar na sala de cinema buscando terror fictício, mas também vai encarar pautas dos horrores da vida real. E é assim que a trama incorpora de maneira excelente.
O que mais chama atenção em ‘Pecadores’ é como a narrativa é moldada. Toda história é contada através da construção dos sonhos, como a vontade de viver da música, o propósito da riqueza e a extrema necessidade de ser livre. Todos esses ideais são unidos na Casa de Blues: o lugar feito para que a população negra consiga sentir a deliciosa sensação da verdadeira liberdade, nem que seja só por uma noite. Assim como a vida, o filme não tem pressa de caminhar rápido com essa construção, e tão pouco, tem medo de apresentar um baque de supetão para os personagens.
Isso faz com que a quebra de expectativa do público, sobre a quase concretização de um momento feliz, seja o grande motivador para que os olhos continuem vidrados na tela. Quando o clímax finalmente mostra as caras, você percebe que já está imerso em uma atmosfera aterrorizante que foi construída como uma casa de lego. Dessa forma, lembramos qual é o gênero principal que o filme trata.
A tão sonhada liberdade em Pecadores
A premissa do filme é guiada pelo questionamento de como conquistar a liberdade. Através dela, com o destrinchamento das camadas do roteiro, percebemos que Coogler quer pontuar em como um país preconceituoso e segregado corrompe toda uma sociedade que sempre visou ser livre.
Isso torna-se perceptível quando damos maior atenção para os arcos dos personagens do Michael B. Jordan (Creed). Apesar do seu primo mais novo ter admiração por eles terem conseguido sair daquele ambiente para conquistar o mundo, descobrimos que os irmãos tiveram que se entregar à criminalidade para conseguir respeito e poder. E, mesmo assim, toda conquista é considerada quase nula quando eles retornam ao passado.
Outro ponto em que a liberdade e a moral são comparadas é em um diálogo entre Smoke e Sammie (Miles Canton) sobre o futuro do mais novo, justamente por ele querer conquistar a independência que seus primos conseguiram. Por sua vez, o mais velho fala sobre as consequências dessa decisão e que Sammie não pode seguir esse caminho, mesmo que isso signifique que ele fique preso em uma vida que não aprova seus sonhos e o afunda em conservadorismo. Essa cena é uma clara menção a Robert Johnson, pai do Blues, que teria feito um “pacto com o diabo” para alcançar o sucesso.

Créditos: Divulgação / Warner Bros. Pictures Brasil
Pecadores apresenta o retorno dos vampiros no cinema
Não é novidade que histórias de vampiros estão ganhando um novo espaço no cinema, porém, de diversas maneiras. Assim como o remake de ‘Nosferatu’, ‘A Hora do Vampiro’ e ‘Renfield’, o novo filme de Coogler traz a criatura noturna para a narrativa com um formato diferenciado. Aqui, apesar de ser visto como uma presença maligna, o roteiro brinca com a dualidade sobre a pauta principal: para ser livre é necessário vender sua alma.
Claro, se for para falarmos sobre terror, não podemos deixar de citar a atuação de Jack O’Connell (Back to Black e Skins). O ator não faz questão de mostrar uma performance agressiva. Aliás, muito pelo contrário – e é isso que deixa tudo horripilante. Durante seu trabalho como o principal vampiro, O’Connell faz questão de ser polido e manter uma postura passiva. Boa parte de sua monstruosidade é através das sombras, criando o medo em torno do que o público não pode ver, porém, pode ouvir.
Como a trilha sonora encorpa o filme de Ryan Coogler
Além disso, não posso finalizar uma crítica sobre ‘Pecadores’ e deixar de citar a trilha sonora. A grande surpresa é que a música é a grande condutora dos acontecimentos do longa. Fazendo referência ao pecado, Coogler nos apresenta o gênero musical como uma melodia sedutora que vai te levar ao som dos seus maiores desejos, mesmo que na época aquilo fosse proibido aos olhos de uma sociedade segregada.
Isso cresce quando percebemos como o estilo musical costura tão bem com todo design de produção. Todo o universo é feito com uma paleta de cores que esquenta ao longo do filme, saindo de um ambiente opaco de plantação e tornando-se um espaço de magnetismo.
Também é interessante ver como Coogler faz questão de mostrar a riqueza da cultura através do Blues em uma cena que não permite que a criatividade seja limitada. Em um trecho musical extraordinário, o diretor mostra ao público como a melodia não só conta memórias de um movimento, como liga gerações através da arte e sua história no mundo.
Pecadores é um filme que vai te atrair pela curiosidade e vai te conquistar pela ousadia de ser uma obra tão fora da curva e autoral, enquanto toda indústria está voltada para tramas nada originais. Aliás, esse só é um sinal mais claro de que o mundo tem que ficar de olho em Ryan Coogler, porque o diretor tem muito a dizer através das suas obras.
O longa estreia em 17 de abril. Assista agora o trailer de ‘Pecadores’:
Eu nem estava sabendo desse filme, mas agora estou bem interessada!
Vi em uma das imagens a Hailee Steinfeld e gosto bastante dela também, você acha que ela atuou bem?
Sim! Gosto bastante da atuação dela e acho que ela fez um excelente trabalho em Pecadores!
Esse filme já entrou para a minha lista dos filmes que preciso assistir!!!
Muito bom!!
quero alguém fiel igual o coogler é ao michel b jordan
Que crítica perfeita Clube!!! Amei, estou ainda mais ansiosa pra poder conferir esse filme!!!!
Quero muito assistir!!!